Dando sequência aos posts sobre temperamento, queria mais para frente trazer para vocês o profeta Jeremias, um detentor de temperamento melancólico, Conhecido como o “profeta chorão”, ele demonstrou uma profunda sensibilidade emocional e uma preocupação constante com o bem-estar espiritual de seu povo. Jeremias frequentemente expressava seu lamento e tristeza pela rebeldia de Israel e pelas consequências de seus pecados, conforme relatado em Jeremias 9:1: “Quem me dera que a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos em uma fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite pelos mortos da filha do meu povo.” Sua natureza introspectiva e detalhista é evidente em suas longas lamentações e reflexões. Jeremias também enfrentou desafios significativos em sua missão, lutando contra sentimentos de desânimo e isolamento, mas sua persistência e fidelidade a Deus ilustram a força interior que caracteriza os melancólicos.
Mas vou começar com um poema do Carlos Drummond de Andrade que se chama “Os
Ombros Suportam o Mundo” e só pelo título do poema dá para perceber que o
negócio não é tão alegre assim, nem otimista. Porém você já tem um vislumbre
rápido de como o temperamento melancólico se manifesta.
“Chega
um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo
de absoluta depuração.
Tempo
em que não se diz mais: meu amor.
Porque
o amor resultou inútil.
E
os olhos não choram.
E
as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E
o coração está seco.
Em
vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste
sozinho, a luz apagou-se,
mas
na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És
todo certeza, já não sabes sofrer.
E
nada esperas de teus amigos.
Pouco
importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus
ombros suportam o mundo
e
ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As
guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam
apenas que a vida prossegue
e
nem todos se libertaram ainda.
Alguns,
achando bárbaro o espetáculo
prefeririam
(os delicados) morrer.
Chegou
um tempo em que não adianta morrer.
Chegou
um tempo em que a vida é uma ordem.
A
vida apenas, sem mistificação.”
Olha só como tem uma tendência quase que hiperbólica no melancólico, “os delicados” como os melancólicos por exemplo “preferem morrer”, bem é um poema forte, e mostra através desses escritos justamente uma característica interior que é uma tendência melancólica de sentir mais afetado pelo mundo que qualquer outro temperamento.
Lamentações 3: 1-11
Falando de Deus esse grande profeta mostra que o melancólico quando está “surtado”
ele vai até para cima de Deus.
“Eu sou o homem que viu a aflição trazida pela vara da
sua ira.
Ele me impeliu e me fez andar na escuridão, e não na luz;
sim, ele voltou sua mão contra mim vez após vez, o tempo todo.
Fez que a minha pele e a minha carne envelhecessem e quebrou os meus
ossos.
Ele me sitiou e me cercou de amargura e de pesar.
Fez-me habitar na escuridão como os que há muito morreram.
Cercou-me de muros, e não posso escapar; atou-me a pesadas
correntes.
Mesmo quando chamo ou grito por socorro, ele rejeita a minha oração.
Ele impediu o meu caminho com blocos de pedra; e fez tortuosas as
minhas sendas.
Como um urso à espreita, como um leão escondido, arrancou-me do
caminho e despedaçou-me, deixando-me abandonado.”
Um profeta que foi extremamente usado por Deus, que era tão sincero com Deus sobre si mesmo que fez questão de escrever um negócio desse, a gente fica achando que Deus vai nos julgar, vai nos culpar, sendo que um dos grandes profetas de toda a escritura bíblica chega a ser tão sincero a ponto de dizer que Deus é como um leão escondido que deixa despedaçado e abandonado.
Interessante esse estado sentimental de um melancólico quando ele está entregue à sua própria melancolia e isso está errado? Não. Isso faz parte de um temperamento, o que cabe a nós fazer, seja qual for seu temperamento, é você é dominado pelo temperamento, pela sua predisposição temperamental ou você domina isso. Ou você é dominado por você mesmo ou você domina a si mesmo.
Lembrando que é algumas tendências, não significando que vai ter todos, e também que o ser humano não é algo que você pode ir colocando em caixinhas, Freud fala que “existe um inconsciente, uma instância mental profunda no ser humano que é uma espécie de baú mental onde as experiências ambientais e predisposições genéticas se misturam entre si retornando a parte consciente da mente em forma de comportamento de autodefesa”, sei que ficou um pouco complicado, mas um exemplo é que se a pessoa sofreu muito com uma figura paterna, ela vai ter dificuldades de lidar com Deus, não é as vezes nem que a pessoa não tenha fé suficiente, a causa mais evidente nesse exemplo é porque as referências do que seja cuidado paterno, olhar paterno, mediação paterna, isso tudo é muito opaco, é muito atravessado por más experiências e por isso a mente humana faz questão de tentando se autopreservar contra experiências passadas ruins faça com que tudo que seja vinculado a pai seja descartado, quando alguém não consegue se sentir amado, não consegue se sentir querido por ninguém, não é porque é mais fechada ou reservada, se você for investigar a vida dessa pessoa você vai ver que ela provavelmente tem experiências passadas que determinaram esse comportamento de esquiva de demonstrações de afeto.
Pontos positivos:
Ser
talentoso, criativo, ter maior facilidade com expressões artísticas e quase a
totalidade dos poetas, dos músicos, escultores e escritores, de artistas em
geral são melancólicos e isso porque eles sentem mais o mundo. Analítico,
tendem a ter quase que uma obsessão predatória por detalhes, eles possuem
também uma tendência muito grande a auto análise o que os leva a ter uma
facilidade maior de se auto conhecerem pois estão sempre em contato direto
consigo mesmo.
Aqui você pode perceber que cada um dos pontos positivos se sair do controle se tornam extremamente negativos, eles tendem também a ser autodisciplinado e como se trata de um temperamento com tendência maior a inconstância e a tristeza geralmente se prendem as suas rotinas e aos seus afazeres para manter esse incerto equilíbrio.
Para o melancólico custa estar equilibrado, como ele é muito perfeccionista, muito crítico, eles tendem a se fechar na sua estrutura mental, existencial e faz de tudo para não se perceber perdendo parte desse controle, por isso que ele não se envolve com tanta gente, não se arrisca, tem muita insegurança de decisões vitais ou essenciais, medo de mudanças. É preciso nas palavras, melancólicos geralmente não gastam palavras à toa, os melancólicos são muito mais precisos, porém nem sempre são tão diretos, melancólicos se expressam melhor sobre si mesmos, sobre o mundo, mais não vão tão direto ao ponto e os coléricos às vezes tendem a se irritar, confiável, esse é o temperamento com mais inclinação a confiabilidade justamente porque ele valoriza os seus poucos amigos, ser desejoso de amar e ser amado, de entregasse mais facilmente ao amor, o melancólico tem uma tendência a entender melhor o amor, parece que ele tem mais facilidade de ponderar o que seja amor, o ódio, por mais que dentro dele seja um pouco complicado de discernir uma coisa da outra, eles sentem necessidade de amar e de se sentirem amados mais do que qualquer temperamento, e isso pode se tornar um problema, pois se exagerado vira a pessoa que depende muito da outra, e aqui reforço que se alguém é muito carente, não é porque ela é melancólica, mas porque talvez teve experiências de muita reprovação, muita rejeição, aí nas suas relações futuras tendem a depender daquele cara ou daquela mulher, aí qualquer coisa já é uma briga, já é um espetáculo dantesco, é uma coisa horrorosa e se desespera muito muito facilmente, porém este temperamento carrega consigo uma probabilidade, uma tendência maior de ser uma pessoa com muito mais facilidade nessa dinâmica de amar e ser amado.
São mais empáticos, os melancólicos por sentirem mais a dor do mundo como nos textos anteriores citados tem mais facilidade a sentir a dor do próximo, e não é à toa que a maior parte das figuras diplomáticas filantrópicas, a maior parte dos que fazem caridade historicamente falando são de uma linha melancólica, uma é a Madre Teresa de Calcutá, Inácio de Loyola melancólico, Agostinho era muito melancólico... Não é por acaso, isso mostra que há uma tendência nos melancólicos de olhar para a dor do próximo diferentemente.
Pontos
Negativos:
Ser
temperamental demais, tendência de sentir a dor muito mais intensamente, ser
ultra realistas e pessimistas, melancólicos tendem a ter lampejos de percepção sobre
a vida de que ela é tediosa, que ela é chata, que ela é acinzentada, que ela
não tem graça. Melancólicos têm essa tendência de achar que a vida não vale muito
a pena, Jeremias surtou contra Deus, não se iludem ou se impressionam demais
com ofertas baratas de felicidade, de bem-estar porque ele não só sabe, mas vive
o fato, sente o fato de que a vida pode ser dura, pode ser perplexa, ela pode
ser complexa, pode ser pesada, ser amedrontado, inseguro demais, o melancólico
tende a sentir-se muito mais amedrontado, muito mais medo e insegurança justamente
pela sua falta de autoconfiança, então bota no mesmo barco a falta de autoconfiança,
baixa autoestima, e isso não pode ir a nada mais que insegurança pessoal, quando
tem que se entregar em relação àquela decisão importante considera como uma
coisa dantesca, alguma coisa que vai decidir a vida dele. Mas ele tem uma
tendência hiperbólica de exagerar tudo, o melancólico vai com certo receio de
magoar e ser magoado e faz tudo errado e aí essa pessoa tem uma confirmação mesmo
que diz para si próprio “você não consegue” e quando o melancólico pensa “não
consigo, não consigo, não consigo” aí o caos está instalado porque daí ele começa
a cada vez mais se afundar nesse pensamento de que ele “não pode”.
Pode ser crítico demais, por ser muito perfeccionista, muito exigente de si, do próximo e do mundo em geral, das instituições, o melancólico tende a criticar tudo e todos principalmente a si mesmo, esse movimento de crítica sempre começa com ele mesmo e a partir da crítica em si mesmo reflete essa insatisfação pessoal nas instituições, nas pessoas, em seja lá o que for, em Deus como Jeremias por exemplo, o exemplo do pai que já citei, quando a pessoa tem um péssimo pai, uma péssima criação, foi violentada, foi abusada de todas as formas possíveis e tem muita gente assim infelizmente, aí no futuro tem dificuldade muito grande de ser por exemplo a pessoa com espiritualidade religiosa no sentido de crer em um Deus, essa dificuldade que ela sente é muito determinada por essa experiência negativa em relação a si mesmo ou a própria vida, porque muito em função de que lá atrás o pai não foi bom pai para ele é “eu não consigo”, “eu não posso” por isso que de certa forma o melancólico é um egoísta em potencial, porque ele projeta todas as suas energias em si mesmo, se criticando, quando alguém elogia ele sente a melhor pessoa do mundo porque a crítica foi muito aumentado em si mesmo.
Ser somente sensível e isso é um problema, o melancólico pode precisar ser tratado com mais gentileza, delicadeza do que pessoas de outros temperamentos porque ele se fere muito facilmente, quando alguém vem e fala algo negativo, isso confirma um pré-julgamento pessoal pois é algo que ela já achava antes, essa sensibilidade fora do normal é muito ruim porque tira a lucidez da gente, ser muito sensível em relação a tudo, a problemas, ao próprio Deus, o evangelho, ser emotivo demais é problema. Ser antissocial, por terem menor autoestima, por serem críticos demais consigo mesmo, perfeccionistas, e por não gostar de sentir-se fora do controle de suas vidas os melancólicos tendem a ser antissociais, ter controle é quase uma utopia para o mesmo, porque ele vê a vida e interpreta a vida com essa dificuldade, que é complicado, de que o mundo tá perdido, quanta gente passando fome, ele interpreta de maneira catastrófica e como ele vê a vida assim ele faz de tudo para procurar manter-se no equilíbrio então foca no que está fazendo, nos seus estudos, foca no que ele tem que fazer e ponto final porque se ele receber uma notícia ruim, “aí meus Deus”, “a vida não presta”. Ele fica mal, fica na cama quer ver filmes no quarto sozinho, não quer sair, não quer fazer nada, por causa dessa necessidade de ter controle sobre suas vidas para não perder esse equilíbrio eles tendem a não se envolver com relações sociais.
O autocontrole é uma necessidade não é à toa que Paulo categoriza como uma das ramificações do fruto do espírito em nós.
Mais importante do que se identificar com algum temperamento ou com jeito ser catalogado, é saber o que o evangelho ou seja o próprio Deus tem a dizer sobre a natureza humana em si mesmo.
Mateus 26:41
"Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas
a carne é fraca."
Olha
só o verbo que ele está usando o espírito ESTÁ pronto, mas a carne É fraca.
Isso
me lembra muito quando Jesus falou: vocês que SÃO maus. Sempre quando alguém
fala de natureza humana nas escrituras fala de SER mal, SER tendente ao pecado,
ao erro, a imperfeição, essa é a primeira coisa que tem que pensar, carne fraca
significa que a natureza humana é imperfeita. Isso lembra muito as palavras de Paulo
em Romanos 7:23:
“mas
vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da
minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros.”
Isso
é uma lei de imperfeição, de inclinação aos impulsos emocionais, reações
emocionais, emoções desmedidas e constantes que tendem a nos dominar, tanto
Jesus quanto Paulo estavam querendo dizer basicamente que apesar de nosso espirito
perfeito por ocasião do novo nascimento, a nossa humanidade que é o que Jesus e
Paulo chamam de carne é que sempre estaremos fazendo força contrária ao que é
certo, e já que a natureza humana pecaminosa é sempre uma tendência, essa lei
do pecado como Paulo fala é sempre ininterrupta aí que entra em cena a
necessidade de auto controle e é porque se é uma força dentro de mim, que vem
de mim, é uma luta do eu contra eu mesmo, é o que me leva por exemplo a reagir
de forma descabida, a tratar mal o próximo,
de bater e xingar, isso existe com todo mundo, não sejamos hipócritas, frente a
isso a necessidade de autocontrole é muito evidente.
Esta vida é curta, 80 anos perto da eternidade não é nada. Nesse curto período de tempo apesar de tudo, a gente tem que sempre buscar nos posicionar nesse ponto de equilíbrio e não é só se manter, se fechar ali e suprimir desejos. É submeter os impulsos, as emoções, os desejos, as reações, as emoções, a uma nova consciência, isso é o evangelho, a sabedoria portanto antes de qualquer coisa é a capacidade de saber domar a si mesmo, não importa qual temperamento.
Lamentações 3: 17-25
“Tirou-me a paz; esqueci-me do que significa prosperidade, por isso
digo: "Meu esplendor já se foi, bem como tudo o que eu esperava do
Senhor". Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e
do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim.”
Já
no 21 está a cura de Jeremias para todo traço humano, ele muda de tom:
“Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança. Graças ao
grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias
são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade! Digo a mim
mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança. O
Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o
buscam”
Lamentações 3, Jeremias surta para cima de Deus e até o verso 16, ele para e pensa que se continuar nessa de auto vitimização, contra a vida, contra Deus, contra a existência, melancólicos tem uma tendência fortíssima a fazer isso, se eu me fechar na minha carência, na minha segurança, nessa necessidade de ser aprovado para os outros, se me fechar nisso aqui e ficar lamentando eu não vou sair do lugar. Mas eu então quero trazer à memória aquilo que me dá esperança e isso diz respeito a uma nova consciência, à disposição mental que tem como base a consciência de fé que pode curar o homem de toda a dependência mental, fragilidade emocional.
Existe uma distinção que Paulo traz em 1 Coríntios 2 que distingue o homem psíquicos, do homem pneumáticos. O homem “psíquicos” é aquele que anda naquele sacode de emoções, ele é levado, guiado, pelas suas emoções. É aquele cara do balanço, aquele cara que se ele tá bem Deus está presente, se ele tá mal Deus está ausente, aquela mulher que se arrepiou, se sentiu alguma coisa Deus está ali, se não Deus abandonou, Se terminou um namoro ou casamento é o fim do mundo, se alguém morreu a vida perde o sentido, essas pessoas que existem aos montes por ai é o que Paulo chama de homem carnal, que é inconstante e não vive pela fé.
Já o homem pneumático do outro lado é aquele que é chamado de homem espiritual, é aquele cara que anda pela sua consciência de fé obedecendo ao que o evangelho ensina, julga todas as realidades da vida com base nessa consciência adquirida e não é julgado por nenhuma das situações da vida. Não é determinado por emoções para situações por morte, por nudez, perseguição, por nada.
Aí
eu te pergunto: Quem é você?
É
homem psíquicos que anda pelas emoções, que se está bem você está bem, tá empolgado
então vamos lá e a vida vale a pena, se não quero ficar no meu quarto mesmo, a
vida é uma porcaria, uma droga.
Quem você é na história?
O justo vive pela fé ou pelo sentimento de salvação, se a palavra diz que você é salvo e tudo está pago, não há culpa, não há julgamento de Deus e a sua mente, as suas emoções viciadas querem te dizer que você é culpado, que você não é digno, não é merecedor, não é bom o suficiente, a quem você vai dar razão? As suas emoções viciadas ou o que Deus disse? Você o homem carnal, natural ou espiritual? Homem psíquicos ou homem pneumático?
O justo vive pela fé diz Habacuque e o autor da carta aos hebreus capítulo 10 também e não pela sensação ou pela convicção, mediação emocional a respeito de fé, essa é a cura para todo homem trazer à memória o que lhe dá esperança e se firmar nessa consciência de fé dando razão cada vez mais ao que Deus diz e não o que seu temperamento diz. Ou você é controlado por você mesmo ou você se controla!
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