Jesus,
como Criador da Terra e da Humanidade, compreende perfeitamente como os seres
humanos devem interagir uns com os outros. Em Suas parábolas, Jesus usou o que
as pessoas comuns da época entendiam como verdade sobre o mundo natural para
explicar aspectos do reino dos céus. Em Mateus 20, na Parábola dos
Trabalhadores na Vinha, Jesus usa elementos da lei econômica natural, como a
legitimidade da propriedade privada, a teoria do valor subjetivo e os direitos
naturais baseados na propriedade, para ensinar sobre o reino de Deus.
Mais adiante, em Mateus 25 e também em Lucas 19, Ele conta outra parábola na qual usa a lei econômica natural novamente para explicar a verdade sobre o reino espiritual de Deus. Essa parábola é comumente chamada de Parábola dos Talentos ou Minas. O uso da palavra "talento" em português leva alguns a pensar que Jesus está se referindo às habilidades, capacidades e conhecimentos de uma pessoa. Sempre que vemos alguém realizar algo grandioso, é normal pensar: "Nossa, essa pessoa é tão talentosa!". No entanto, a palavra "talento" não se refere à habilidade das pessoas em diferentes atividades. Vamos investigar mais a fundo.
Em Mateus 25:15, Jesus fala de um senhor distribuindo "talentos" aos seus escravos. "Talento" é uma transliteração da palavra grega ταλαντον, que originalmente significava a escala de uma balança. Mais tarde, passou a significar "algo que é pesado" e, posteriormente, uma unidade específica de peso para ouro ou prata. Um talanton ou talento grego, também chamado ático, pesava 20,04kg; um talento romano pesava 32,3 kg; o egípcio 27 kg. Na Babilônia eram usados dois tipos de talentos: um chamado "leve", com 30,3 kg, e o outro chamado "pesado", com 60,6 kg. Israel Antiga, e outros países levantinos, de início adotaram o talento babilônico, mas posteriormente revisaram a massa. O talento usado nos tempos do Novo Testamento pesava 58,9 kg. Os hebreus chamavam o talento de kikkar.
As civilizações mesopotâmicas (babilônios, sumérios e acadianos), hebreus e egípcios, dividiam o talento em 60 minas, cada mina subdividia-se em 60 siclos. Um talento tinha então 3600 siclos. Os gregos também usavam a razão de 60 minas para um talento. Sendo que uma mina equivalia a 100 dracmas (um dracma tinha de 4 a 6 gramas). Uma mina grega tinha de 431 à 437 gramas.
Na época de Jesus, um talanton equivalia aproximadamente a 60 minas ou 1500 dias (aproximadamente 4 anos) de trabalho. Em uma conta rápida um talento seria 25,992 kg de prata, hoje o preço está em o preço da prata hoje no Brasil está em torno de R$ 7,36 por grama para prata pura.
Então se pegarmos os ~25.992 g de um talanton:
25.992
× 7,36 = R$ 191.408,32
Um talento seria cerca de R$ 191 mil. Logo sabemos que se trata de uma quantia significativa.
Em Lucas 19, é mais fácil perceber que Jesus está falando sobre dinheiro, pois Ele descreve um nobre dando "minas" aos seus servos. Mina é a transliteração da palavra grega μνα, que era o nome de uma moeda de prata que pesava cerca de 350 gramas. Ela valia cerca de 25 dias de trabalho durante a vida de Jesus. Isso equivale aproximadamente ao salário mensal de um trabalhador comum. Ambos os nomes de moeda nas parábolas representam pesos diferentes de ouro ou prata, embora as unidades tenham mudado ao longo do tempo e da geografia.
Os escravos que lucravam com o dinheiro que lhes era dado o faziam quando "negociavam com eles", ergazomai (ἐργάζομαι), ou seja, colocavam o dinheiro para trabalhar. Havia uma variedade de maneiras de fazer isso no mundo antigo, nas áreas de agricultura e comércio. Assim, o escravo fiel fazia algo como comprar um campo e sementes, que ele poderia transformar em uma colheita lucrativa. Ou ele poderia comprar animais para produzir um grande rebanho de gado, ovelhas ou cabras. Então ele poderia vender a lã, o leite e a carne para obter lucro. Um escravo fiel também poderia ter comprado ferramentas e matérias-primas para fazer diferentes implementos à mão, como tendas, cadeiras, mesas, carruagens, casas, joias, ferragens, utensílios de prata, etc. Mesmo que o escravo não tivesse habilidades comerciais, ele poderia ter contratado aqueles que tinham e os empregado para fazer e vender os mesmos tipos de mercadorias. A lista de opções teria sido muito longa, mesmo na época de Jesus. O sucesso econômico de cada escravo dependeria do preço das matérias-primas, da eficiência do processo de produção, do valor para os clientes e da visão empreendedora do escravo. O fator mais importante é o empreendedorismo, pois ele combina todos os outros fatores para direcionar o dinheiro e os bens de capital para produzir um novo produto com uma utilidade marginal maior em comparação com os outros produtos disponíveis no mercado na época, ou outros novos produtos em potencial.
A partir da resposta do senhor (vv. 19-23), vemos que empreendedorismo, desenvolvimento econômico e lucro são coisas boas. Jesus não teria usado esse exemplo em sua parábola se isso não fosse verdade. Fornecer produtos novos, melhores ou mais baratos às pessoas torna suas vidas materialmente melhores. Jesus ensina que o mesmo preceito básico também se aplica ao mundo espiritual. Os crentes em Jesus devem ser espiritualmente produtivos, assim como podemos ser economicamente produtivos. Os cristãos não devem ter a mentalidade anticapitalista que tantos têm em nossos dias. O lucro é uma coisa boa. Mas não negligenciemos também o aspecto espiritual de nossas vidas, onde podemos nos destacar nas disciplinas de santificação, teologia, evangelização, caridade e serviço à nossa igreja e comunidade.
Outra verdade sobre o mundo natural que Jesus ilumina nessas parábolas é que a diversidade ou diferenciação das pessoas é natural e boa. O mestre confia diferentes quantias de dinheiro aos seus servos com base em sua avaliação da capacidade deles, então acho que o talento está envolvido nas parábolas, afinal. Ele não dá a todos eles mesma quantia de dinheiro. Ele não espera que cada escravo produza exatamente a mesma quantia de lucro. Ele dá mais recursos e responsabilidades àqueles que são melhores na tarefa em questão. Mas Ele também não deixa ninguém de fora. Todos recebem dinheiro para trabalhar e tarefas para completar a fim de construir a riqueza do senhor. Vemos Deus fazer a mesma coisa espiritualmente. Algumas pessoas são mais dotadas do que outras para exercer o ministério, mas todos têm um papel que deve ser valorizado e respeitado (ver 1 Coríntios 12). Nessas parábolas, você vê o tipo de hierarquia social comumente chamada de meritocracia ou aristocracia natural. Ela não é rígida nem altamente formalizada. Não pode ser passada para os filhos nem mantida dentro de uma determinada classe social. É algo que Deus supervisiona, dotando os indivíduos de dons naturais e espirituais.
Jesus enfatiza essa verdade quando dá o talento do escravo preguiçoso ao escravo que já tinha 10 talentos (de dinheiro). Ele nem sequer dividiu o dinheiro entre os escravos fiéis restantes. Aquele que demonstra o maior rendimento em seu investimento recebe mais do que os outros escravos produtivos. Isso é o oposto da noção de igualitarismo social sobre a qual as ideologias do Socialismo, Comunismo e Teoria Crítica são construídas.
Em ambas as parábolas, o nobre diz ao servo perverso que ele deveria ter depositado o dinheiro que lhe fora destinado no banco. Palavras semelhantes são usadas nas duas parábolas. Em Mateus 25, a palavra para banco é trapezites (τραπεζίτης), que tem um escopo restrito, significando banqueiro, corretor ou cambista. Em Lucas 19, a palavra para banco é trapeza (τραπεζα). O significado mais básico dessa palavra é para uma mesa ou para a comida que é servida em uma mesa. Mas, no contexto, significa a mesa de um agiota. Ambas as parábolas também usam a mesma palavra para juros, tokos (τόκος). A definição ampla é algo gerado ou gerado. No que diz respeito ao empréstimo de dinheiro, significa o lucro resultante do empréstimo, chamado usura ou juros.
O nobre diz que o escravo perverso deveria ter dado seu dinheiro a um banqueiro e obtido lucro com juros. Essa opção não é apresentada como uma boa opção para o empreendedorismo direto. No entanto, gerar renda com usura é apresentado como o segundo melhor resultado.
Mas a usura não é algo ruim? Por muito tempo na história da igreja, os líderes da igreja proibiram qualquer cristão de cobrar juros ou usura em qualquer valor, por qualquer motivo. Hoje, a Nova Direita (incluindo etnonacionalistas, nacionalistas cristãos e integracionistas católicos) apresenta a usura como um mal que certos grupos introduziram em nossa economia. Eles querem voltar às proibições anteriores. A quem devemos dar ouvidos: a Jesus em suas parábolas ou aos teólogos do passado?
Foi somente no século XVI que os escolásticos espanhóis da Escola de Salamanca começaram a desenvolver a teoria econômica e decidiram que era moral cobrar juros sobre empréstimos (com juros moderados obviamente). Eles abordaram o assunto a partir de uma base filosófica. Acredito que a lógica deles era razoável; por exemplo, eles também formularam corretamente que o valor econômico é subjetivo. Um conceito que os austríacos adotaram e desenvolveram ainda mais. Assim como os escolásticos espanhóis diziam que cobrar juros sobre empréstimos era aceitável, vemos que Jesus apresentou o ganho com usura como um resultado positivo nessas parábolas. Existem outras passagens bíblicas que potencialmente colocam a cobrança de usura sob uma luz diferente, por isso precisamos refletir sobre a questão com cuidado.
Primeiro, as parábolas de Mateus 25 e Lucas 19 são exemplos que mostram afirmações positivas sobre a usura. Há também Provérbios 28:8, que apresenta a cobrança de juros de forma positiva quando o dinheiro obtido com os juros é usado para fazer caridade aos pobres. A partir desse exemplo, vemos que, no caso da usura, o fim (esmola) pode justificar os meios (cobrar juros).
Várias passagens do Antigo Testamento proíbem Israel de cobrar juros sobre empréstimos aos pobres. Essas passagens não se aplicam a todos os casos, mas sim como um meio de proteger os pobres da opressão. Êxodo 22:25 especifica que ninguém em Israel deve cobrar juros de um pobre, seja emprestando dinheiro, comida ou roupas. A linguagem em Levítico 25:35-37 é semelhante, onde diz: "não tome dele (do pobre) juros usurários", mas "suporte-o".
Você também vê o mesmo princípio em Neemias 5, onde as pessoas se aproveitam dos pobres em Jerusalém. Pais, em desespero, vendiam seus filhos como escravos e suas terras a outros em troca de comida. Os pobres tomavam dinheiro emprestado para pagar impostos e grãos para se alimentar, e o credor cobrava juros. O problema que Neemias viu não era simplesmente cobrar juros, mas cobrar juros daqueles que eram tão pobres que estavam desesperados e famintos. Deve ficar claro que o princípio bíblico é que não devemos cobrar juros daqueles que precisam de ajuda para subsistência ou para pagar necessidades imediatas. Mas essa não é a situação que Jesus descreve em Mateus 25 e Lucas 19. Ele está descrevendo uma situação em que emprestar dinheiro é uma forma de gerar uma atividade econômica nova ou expandida.
Existem algumas passagens que proíbem a cobrança de juros sem um contexto específico. O Salmo 15 menciona um homem justo que não empresta seu dinheiro a juros. Isso não significa que emprestar dinheiro a juros seja injusto, mas sim que uma pessoa justa busca genuinamente ajudar os outros e cuidar deles. O Salmo representa um exemplo de homem justo. Não é um mandamento universal. Além disso, os Salmos usam linguagem poética, portanto, a interpretação deve levar em conta o gênero.
As duas passagens que soam mais negativas são Ezequiel 18 e Deuteronômio 23:19-20. Ezequiel diz que cobrar juros é pecado sem adicionar uma condição direta. No entanto, ele insere essa declaração em uma lista de comportamentos pecaminosos. Vários dos pecados se referem à opressão dos pobres. Portanto, está poderia ser uma referência indireta às mesmas situações encontradas em Êxodo, Levítico e Neemias. Em Deuteronômio 23:19-20, há uma lei para a qual não há condição direta ou indireta. Comparando esses dois exemplos com as outras ocorrências, parece mais uma lei específica para Israel do que uma lei moral universal que os cristãos precisam seguir hoje. O exame das diferentes passagens mostra que a usura não é algo ruim em princípio, mas uma ferramenta que pode ser usada para oprimir os pobres. No entanto, ao mesmo tempo, é uma ferramenta que pode levar ao crescimento econômico e à melhoria da riqueza material na sociedade, inclusive como fonte de auxílio aos pobres.
Em resumo, aprendemos a lei natural com o que a Bíblia diz sobre a humanidade e a criação, incluindo as parábolas de Jesus, porque Ele usa a verdade sobre o mundo natural para nos ensinar sobre Seu reino espiritual. Jesus baseia Suas parábolas sobre os talentos e as minas na verdade econômica de que o dinheiro é um peso mensurável de uma mercadoria física como ouro ou prata. Ele ensina que cobrar juros sobre empréstimos é uma atividade moral porque é economicamente produtiva, quando não é usada para tirar vantagem dos pobres. Por fim, Jesus ensina que a sociedade não deve ser construída com base no conceito de equidade, igualitarismo ou igualdade de resultados, mas sim na meritocracia baseada nos talentos do indivíduo.

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