Entrando em Eclesiastes 5 podemos perceber que embora seja sábio buscar a Deus, o Pregador lembra aos seus leitores que Deus é transcendente e deve ser temido. Chegar diante de Deus não é uma questão trivial, pois, como escreve o Pregador, “Deus está nos céus e vocês estão na terra” (5:2) – uma forma de lembrar aos leitores que eles estão “debaixo do sol”, onde tudo é vaidade. Portanto, aqueles que se apresentariam diante de Deus deveriam ser cautelosos, escolhendo cuidadosamente suas palavras. As palavras que são ditas devem ser honradas. Não há espaço para vaidade diante de Deus.
Por causa do carácter santo e justo de Deus, devemos temê-lo. Não há espaço para vaidade em sua presença.
PROMESSAS
FEITAS, PROMESSAS CUMPRIDAS.
O Pregador deseja evitar que as pessoas pronunciem
palavras precipitadas ou sem sentido durante a sua adoração a Deus (vv. 1-2),
particularmente a tomada descuidada de um voto religioso como um ato de piedade
(ver Dt 23:21-23). Ao fazer um voto, um adorador prometeria realizar um ato
específico (como fazer um sacrifício) se Deus respondesse favoravelmente a uma
petição específica (Gn 28.20-22; Jz 11.30-31; 1 Sam. 1:11). Contudo, como fazer
um sacrifício era caro, as pessoas muitas vezes procuravam alguma desculpa para
evitar cumprir seu voto (por exemplo, Eclesiastes 5:6). Nesta passagem vemos a
importância de manter os votos. Quando fazemos promessas, devemos ter a
intenção de cumpri-las. Contudo, por sermos criaturas caídas que não conseguem
controlar o futuro, muitas vezes deixamos de cumprir os nossos votos. Em
contraste, o Deus que adoramos controla o futuro e é fiel às suas promessas.
Vemos isso supremamente no envio de seu Filho, Jesus. Todas as promessas de Deus
são cumpridas em Cristo (2Co 1:20); o que Deus prometeu, ele será fiel em
cumprir àqueles que estão em Cristo pela fé.
A
IMPORTÂNCIA DA OBEDIÊNCIA.
Depois que Israel foi resgatado do cativeiro no
Egito, Deus deu-lhes os Dez Mandamentos para orientar o seu comportamento como
povo da aliança. Ter um padrão claro de comportamento comunicava a importância
da obediência a Deus. Contudo, fica claro na história de Israel que a
obediência não era uma realidade consistente na vida do povo. No final dos
Livros Históricos, Israel foi exilado da Terra Prometida devido à sua contínua
idolatria e desobediência. Mas Deus é fiel às suas promessas ao seu pai Abraão,
e através dos profetas ele promete um novo dia em que as pessoas serão
renovadas na aliança e serão capazes de viver em obediência (Jeremias 33:14-26;
Ezequiel 37: 1–6).
OBEDIÊNCIA
ANTES DO SACRIFÍCIO.
A ideia de obediência antes do sacrifício é comum na
Bíblia (por exemplo, Oséias 6:6; Mateus 9:13). Vemos sua importância remontando
a Caim e Abel (Gênesis 4). Embora ambos oferecessem sacrifícios diante de Deus,
parece que apenas Abel foi obediente na maneira como ofereceu seu sacrifício.
Da mesma forma, depois que Israel deixou o Egito e construiu o tabernáculo, a
punição de Nadabe e Abiú mostrou a importância da obediência; os israelitas não
deveriam oferecer sacrifícios como quisessem (Levítico 10). No tempo dos juízes
e dos reis, embora o sistema sacrificial estivesse em vigor, os corações das
pessoas afastavam-se de Deus à medida que os seus reis, começando por Salomão,
os levavam à idolatria. Eventualmente, quando chegamos aos profetas, Deus
expressa seu desejo de que ele preferisse obediência a sacrifícios vazios
(Oséias 6:6). Jesus reitera este sentimento nos Evangelhos (Mateus 9:13), e por
causa do seu sacrifício perfeito, os rituais do tabernáculo e do templo não são
mais necessários. À medida que nos relacionamos com Deus, vemos o seu desejo de
corações que sigam e obedeçam, em vez de apenas participarem em rituais
religiosos externos.
O PODER DA LÍNGUA. Começando com a torre de Babel (Gênesis 11), vemos o poder da língua nas Escrituras. Quando todos falavam a mesma língua, eles foram capazes de coordenar seus esforços para construir uma torre até os céus e fazer seu nome. A confusão de línguas levou à dispersão do povo. Ao longo do restante do Antigo Testamento, vemos o poder da língua para o bem ou para o mal. É um tema importante em Provérbios, em referência tanto ao uso apropriado de palavras (10:14; 11:12, 13; 12:18; 13:3, 16; 15:28; 17:27, 28; 19: 1; 20:18, 25; 26:4) e a importância de falar e ouvir (6:16–19; 8:6–9, 12–14; numerosas referências nos capítulos 10–31). O Pregador em Eclesiastes está trabalhando dentro desta tradição de sabedoria ao alertar os leitores para não fazerem pronunciamentos precipitados (Eclesiastes 5:2, 6). Em outros lugares, nos Profetas somos avisados sobre os perigos da língua (Is 57:4, 59:3; Jr 9:8; 18:18; Mq 6:12). No Novo Testamento, Tiago retoma esta tradição de sabedoria e alerta para a necessidade de controlar a língua (Tiago 1:26) devido ao seu poder de destruir ou enviar mensagens contraditórias (3:1-12). Em última análise, todas as línguas serão colocadas sob o senhorio de Cristo (Filipenses 2:10-11) e serão usadas apenas para falar o bem, não o mal.
TEMPLO
DE DEUS E PRESENÇA DE DEUS.
No seu discurso em Atos, Estêvão volta-se para a
era dourada de Israel, os dias de Davi e Salomão, para salientar que os judeus
associaram erroneamente a presença de Deus apenas ao templo. Pelas próprias
palavras de Deus, ele não está limitado a uma estrutura feita por mãos humanas
(Atos 7:49–50). Deus está perto de todos os que o invocam (Salmo 145:18) e se
aproximou de nós mais plenamente em Jesus Cristo, o Justo. No Antigo
Testamento, Deus habitou entre os judeus na forma do tabernáculo, uma tenda
temporária que permitiu a Israel dizer: “A glória de Deus está conosco” (Êxodo
40:34-35). Na encarnação de Cristo, Deus veio habitar entre nós, encarnando-se
de modo para que possamos verdadeiramente chamá-lo de Emanuel, Deus conosco
(Mateus 1:23; João 1:14). Como tal, Jesus julgou o templo como o ponto focal da
adoração da aliança (Mt 21:13; 23:38; 24:2) e apontou a si mesmo como seu
substituto (Mt 12:6; 26:61; 27). :40, 51). Ele é aquele para o qual os
edifícios do templo sempre apontaram. Nele nos encontramos com Deus, comunhão
que o templo foi criado para facilitar. Através da morte de Jesus, temos um
sacrifício perfeito e permanente e um intercessor pelos nossos pecados (Hb
7:23-28), bem como o dom do Espírito que habita em todos os que adoram a Deus
em Espírito e em verdade (João 4:23-24)
A
OBEDIÊNCIA DE CRISTO.
Os teólogos muitas vezes fazem uma distinção entre a
obediência ativa e passiva de Jesus. A obediência ativa concentra-se na vida
perfeita que Cristo viveu enquanto esteve na terra. Em consonância com a ênfase
acima sobre a importância da obediência, Jesus seguiu perfeitamente os
mandamentos de Deus. A obediência passiva refere-se à sua submissão ao
sofrimento sacrificial e à morte na cruz. Nisto ele seguiu o chamado específico
de Deus para sua vida, que reunia obediência e sacrifício. Embora a ênfase do
Antigo Testamento estivesse na obediência acima do sacrifício, no Novo
Testamento Deus nos deu, em Cristo, um sacrifício perfeito que também exibiu
obediência perfeita.
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