O Reino que não se escreve com Glória!!

"O Reino de Deus está dentro de vós."
Lucas 17:21

O mundo nos treinou para vencer. Subir. Correr atrás da glória. Acumular. A vestir títulos como armaduras. Aparecer. A edificar casas sobre areia e chamá-las de palácio.

Mas o Reino de Deus é uma contramão. Uma pedra no meio do caminho. Uma voz que sussurra: “volte ao início”.

Liev Tolstói, o aristocrata russo que virou praticamente um profeta, escutou essa voz. E em vez de ignorá-la, deixou que ela rasgasse tudo: fama, fortuna, status, literatura. Foi da glória para o chão. Do trono para a enxada. Da elite para a cruz.

E é a partir de sua queda que ele nos prega o Evangelho. Com tinta, suor e um coração implorando por redenção.

Em seu livro A Confissão, Tolstói escreve com brutalidade:

“A vida perdeu todo o sentido. Tudo o que eu fazia não fazia mais sentido. A única pergunta real era: devo me suicidar ou não?”

E aqui começa sua conversão. Não na igreja. Não num culto. Mas no desespero.

Ele viu camponeses orando com fé sincera. Ele, o intelectual, foi salvo pela sabedoria dos simples. Como Cristo disse:
"Graças te dou, Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos."Mateus 11:25
e
“De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” — Marcos 8:36

A partir dali Tolstói deixou de ser escritor apenas de enredos. Passou a escrever evangelhos disfarçados de romance. Suas obras são como epístolas não canônicas. Parábolas com cheiro de terra e gosto de Graça.

1. Guerra e Paz
Em "Guerra e Paz", ele nos mostra que não há heróis nas guerras humanas.
Há apenas vaidade, morte e delírio.

Pierre Bezukhov, herdeiro, nobre, vê sua vida vazia até ser preso. Na prisão, entre camponeses esfarrapados, descobre o amor e passa por uma transformação espiritual ao perceber que a verdadeira paz está na renúncia ao ego e na entrega ao amor altruísta.

“A felicidade está em viver para os outros.”

E o príncipe Andrei, ferido em batalha, olha o céu infinito e entende:
"Tudo é vaidade."Eclesiastes 1:2

2. Anna Kariênina
"Anna Kariênina" é um retrato da culpa que consome. A protagonista, ao ceder à paixão proibida, entra em um ciclo de culpa e desespero que a leva à destruição. Tolstói não a condena, mas mostra como a sociedade, ao invés de oferecer redenção, reforça a culpa, negando-lhe a possibilidade de recomeço.​

Mas a morte de Anna não é apenas a queda de uma mulher — é o grito de uma alma sem perdão.
E o Evangelho pergunta:
Onde está a igreja que deveria tê-la acolhido?

Anna é mulher, pecadora, julgada. A sociedade a apedreja. A igreja se cala. Ela busca amor e encontra condenação.

Mas em paralelo, Levin, o camponês que filosofa, encontra Deus num campo, entre o suor e o trigo.
"A resposta está em viver bem. Em amar. Em servir. Em Deus."

3. A Morte de Ivan Ilitch
Em "A Morte de Ivan Ilitch", Tolstói fecha a porta da ilusão:
Um homem ignora o amor, despreza os pobres, nega a compaixão e vive para subir na vida. Um homem perfeito aos olhos do mundo. Morre aos poucos e descobre, agonizando:
“Minha vida... foi errada.”

Ao aceitar isso, morre em paz. Quando a Graça, como um ladrão no último minuto, entra e o redime.
“A porta é estreita.” — Mateus 7:14
Mas a Graça, ah, essa ainda é mais estreita... e ainda assim nos cabe.
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."João 8:32

4. Ressurreição
Em seu último romance, ele narra um príncipe que reencontra a mulher que destruiu e que agora está sendo julgada. A culpa o transforma. Ele larga tudo para segui-la no exílio.

“Eu a corrompi. E agora a julgo?”

E segue o Cristo que desce até o chão com quem está caído.

5. Onde Existe Amor, Deus aí Está
Aqui eu vou fazer uma citação de um pastor chamado Michelson Borges (bem conhecido dos desbravadores, ou deveria ser), autor de "A história da vida" e "Nos Bastidores da Mídia", entre outros.

"No conto que abre o livro Onde Existe Amor, Deus aí Está, Tolstói fala de Martyn Audeitch, velho sapateiro russo que perdeu a esposa e os filhos e se distanciou de Deus devido à dor. Aconselhado por um amigo, Audeitch começa a ler os Evangelhos e encontra consolo na figura amorosa e sofredora do Filho de Deus, Jesus Cristo. Por meio de personagens da vida real, necessitados de ajuda física e sentimental, Tolstói ilustra as palavras de Jesus registradas em Lucas 6: “Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles.” Minorando a dor de seus semelhantes, Audeitch encontra novo sentido para viver e compreende, como nunca antes, que receber pessoas necessitadas, dar-lhes atenção e atender suas necessidades é receber o próprio Cristo e dar real sentido à palavra amor.

6. O Reino de Deus Está em Vós
Aqui Tolstói deixa a ficção. Ele escreve um manifesto. Contra a violência, contra a religião institucional, contra o poder. Ele critica as instituições religiosas por se afastarem dos ensinamentos de Cristo e defende que a verdadeira redenção está na prática do amor incondicional e na resistência ao mal através do bem.

Aqui ele faz uma denúncia contra o Cristianismo que abençoa exércitos.
Contra igrejas que se vendem ao Estado.
Contra pastores que não pregam o Sermão do Monte porque dá pouco dízimo.
Tolstói nos lembra nesse livro:

"Cristo não mandou matar, nem resistir ao mal sem ser com o bem, nem acumular tesouros. Mandou amar até sangrar."

Ele inspirou Gandhi. Irritou o Estado, foi excomungado pela Igreja Ortodoxa. Ainda assim, viveu como um bem-aventurado:

"Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra."Mateus 5:5

Tolstói não morreu em glória. Fugiu de casa deixando esposa, filhos, luxo. Morreu numa estação de trem. Sozinho. Despojado. Como um profeta que não tinha onde reclinar a cabeça.

Mas deixou um rastro. Um mapa. Uma confissão viva:
O Reino de Deus não está em palácios. Não está nas máquinas de guerra. Não está no aplauso.

O Reino está em ti.

Na tua dor. Na tua fome de sentido. Na tua vergonha que ainda não foi redimida.

E esse Reino é uma Pessoa. Que te chama. Que te ama. Que te espera.

Jesus Cristo.

"Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo". — Apocalipse 3:20

Eu particularmente gosto muito de Tolstói, mas aqui não te peço para admirá-lo.
Não te peço para citá-lo.

Te convido a fazer como ele:
Rasgar tuas certezas.
Quebrar tuas idolatrias.
E dizer com a alma nua:
“Se o Reino está em mim, então eu preciso nascer de novo.”

“O Reino está em ti”, mas só quem já “morreu” o consegue ver.

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