“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor...” – Isaías 1:18
“Conhece-te a ti mesmo.” – Dístico de Delfos, citado por Platão
Queridos leitores, entre o templo e a caverna, entre o filósofo e o profeta, há um homem com sede. Sede de entender, sede de crer, sede de viver algo que faça sentido.
Platão, o grego, olhou o mundo e viu sombras. Disse que a realidade verdadeira não está aqui, está além.
Isaías, o hebreu, olhou o trono e viu glória. Disse que a realidade verdadeira desceu e falou conosco.
Um buscou pela razão, o outro foi invadido pela revelação.
E nós?
Nós caminhamos entre os dois, com a cabeça cheia e o coração vazio, tentando juntar pensamento e fé, lógica e amor, o visível e o invisível.
Hoje, pretendo ensinar que Ele não despreza a razão, mas também não se limita a ela.
A Caverna: o limite da mente humana
Platão contou que vivemos como prisioneiros em uma caverna, vendo apenas sombras projetadas na parede.
Pensamos estar vendo o real, mas são apenas reflexos.
Para ele, o caminho da libertação é a razão, sair da caverna e encarar a luz.
Quantos de nós ainda vivemos assim?
Prisioneiros de ideias, de rotinas, de versões pequenas da verdade.
Vivemos cercados de informação, mas famintos de sentido.
Sabemos muito, mas entendemos pouco.
Temos tecnologia para falar com o outro lado do mundo, mas não temos paz para conversar com Deus.
A razão é boa, é um presente divino.
Mas ela chega a um ponto onde o ar rareia.
E quando o ar rareia, o intelecto começa a se asfixiar.
A razão é como uma tocha acesa na noite.
Ela ajuda a ver um pouco mais longe, ilumina os degraus, revela o chão.
Mas quando o Sol nasce, a tocha se torna inútil.
Não porque esteja errada, mas porque encontrou algo infinitamente maior do que ela podia sustentar.
Assim é o pensamento humano diante da presença de Deus.
A mente se cala, não por derrota, mas por deslumbramento.
A Sarça: o encontro que queima e transforma
Isaías não subiu escadas filosóficas.
Ele foi surpreendido por uma visão.
Ele viu o Senhor sentado sobre um alto e sublime trono, e os serafins clamavam:
“Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos!”
E então Isaías gritou: “Ai de mim!”
Platão procurava a luz com raciocínios.
Isaías foi tomado por ela.
A luz deixou de ser ideia e virou presença.
E ainda assim, esse mesmo Deus se aproxima e diz:
“Vinde, pois, e arrazoemos.”
Mas o arrazoar d’Ele não é simétrico.
Não é uma conversa entre iguais.
É o Eterno inclinando-se sobre o efêmero.
É o Criador sentando-se à mesa do barro.
Quando Deus diz “Vinde, pois, e arrazoemos”, Ele fala como um Pai diante de um filho teimoso:
“Vamos conversar, filho. Quero te explicar o que o teu coração não entende.”
Ele não quer vencer a discussão, Ele quer vencer a distância.
Ele não debate, Ele educa.
Não grita, convida.
Deus é o único ser que consegue raciocinar com misericórdia.
E quando o homem aceita esse convite, a mente se purifica e o coração se aquieta.
O Logos: o elo entre o filósofo e o profeta
Séculos depois, João escreveria:
“No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus.”
O Logos.
A razão criadora.
A Palavra viva.
João pega a escada de Platão e o fogo de Isaías e mostra o elo: Jesus Cristo.
Em Cristo, a ideia virou carne.
O raciocínio virou rosto.
O eterno desceu até o temporal.
Platão dizia que a verdade estava acima.
Isaías dizia que a glória estava além.
João disse: “Ela habitou entre nós.”
Cristo é uma ponte viva entre pensar e crer.
Enquanto a razão constrói pontes que não alcançam o outro lado,
Deus atravessa o rio e nos chama pelo nome.
Fé e razão: dois olhos da mesma alma
Deus não pede que deixemos a mente no banco da igreja.
A fé não é apagar o pensamento, é iluminá-lo.
É pensar com os olhos do Espírito.
Um filósofo sem alma vira cético.
Um crente sem pensamento vira fanático.
Mas o cristão que pensa e ora vive em equilíbrio.
Santo Agostinho dizia:
“Creio para entender, e entendo para crer melhor.”
A fé busca compreensão, e a razão se ajoelha quando compreende o amor.
A Cruz: onde a lógica sangra e a graça vence
A cruz é o ponto onde toda a razão humana se quebra e toda a graça divina começa.
Nenhuma teoria explica o Deus que morre por inimigos.
Nenhum sistema explica o sangue que perdoa.
No Calvário, o filósofo cala e o profeta chora.
E ambos percebem: a verdade não é equação… é Cordeiro.
No alto do Gólgota, Deus apresentou o argumento mais irrefutável da história.
Não falou em grego.
Não discursou em hebraico.
Falou em sangue.
O raciocínio do céu é redentor.
A lógica de Deus tem forma de cruz.
Muitos vivem como Platão: pensando sem se render.
Outros como Isaías antes do trono: esmagados pela culpa.
Mas Deus nos chama a viver entre os dois:
pensar, mas também se deixar tocar;
refletir, mas também obedecer;
arrazoar, mas com o coração rendido.
Todos os dias, pratique o “arrazoar santo”:
Pergunte a Deus o que Ele quer te mostrar.
Apresente suas dúvidas.
Escute no silêncio da oração.
Deixe que Ele transforme raciocínios em fé ativa.
Entre Platão e Isaías caminha o homem moderno: racional, mas vazio; conectado, mas perdido.
Mas Deus ainda diz:
“Vinde, pois, e arrazoemos.”
Ele não teme sua pergunta, nem se assusta com seu ceticismo.
Ele quer te encontrar, e nesse encontro a mente se ajoelha e a alma entende.
Quando a razão se curva diante da cruz, ela deixa de buscar sentido e começa a viver o Sentido.
E esse Sentido tem nome: Jesus Cristo, o Logos encarnado.

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